(Sem título)

Alimentamo-nos da carne fresca
E dos vidros partidos
Dos faróis quebrados.
Sugamos o sangue derramado,
Qual vampiro sedento de corpos exangues,
E perscrutamos as ruelas por terrores,
Horrores e escandalosos desamores,
De feições malévolas e olhos parados,
Turvos de lágrimas de alegria
Pela tourada, pela arena trágica,
Pelo acto de fé, pelo campo de tortura.
Somos mórbidos, perversos e pervertidos
Pelo sangue e lágrimas alheios,
E sentimo-nos orgulhosos disso.

Há um assassino na vizinhança.
Vamos adorá-lo.

Ana Reis

(Porque é um mundo injusto e perfeitamente irracional. E porque somos vampiros sugadores da nossa própria dor.)