sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Adeus

Adeus. Não posso separar-me deste papel que irá ter às tuas mãos. Quem me dera a mesma sorte! Ai, que loucura a minha! Sei bem que isso não é possível! Adeus; não posso mais. Adeus. Ama-me sempre, e faz-me sofrer mais ainda.

Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado, carta primeira, trad. Eugénio de Andrade

terça-feira, 1 de setembro de 2009

God help the girl, she needs all the help she can get

There is no way I'm looking for a boyfriend
There is no way I'm looking for a scene
I need to save some dough
I'm a working girl, you know
I'll fend attention off I keep to myself

I love my room, I'm getting used to sleeping
Some nights I really like to lie awake
I hear the midnight birds
The message in their words
The dawn will touch me in a way a boy could never touch
Their promise never meant so much to me

You have been warned, I'm warned to be contrary
Backward at school, I wrote from right to left
Teacher never cared for me
Preacher said a prayer for me
God help the girl, she needs all the help she can get

I sit for hours just waiting for his phone call
I'll leave the chocolate hidden in the fridge
I'll play his messages
Analyze his intonation
Please stop me there, I'm even boring myself

I think of him when I'm doing the dishes
I think of him while looking in the sink
This ain't no play on words
My love for him is absurd
If he gave me a sign I'd think about it for a week
I'd build it up and then I'd turn him down

You have been warned, I'm warned to be contrary
Backward at school, I wrote from right to left
Teacher never cared for me
Preacher said a prayer for me
God help the girl, she needs all the help she can get

Stuart Murdoch, música de Belle & Sebastian e, recentemente, God Help the Girl

domingo, 2 de agosto de 2009

Pico do Areeiro
















Fotografia tirada em 01-08-2009 no Pico do Areeiro (1818 m de altitude), Madeira

[Fatia de algo transcendente à escrita. Por vezes, só imagens conseguem fazer-se valer.]

sábado, 25 de julho de 2009

Uma só forma de amor

Ipsa quoque incalui, qualemque audire solebam,
nescio quem sensi corde tepente deum.
Fugerat ore color, macies adduxerat artus,
sumebant minimos ora coacta cibos;
nec somni faciles et nox erat annua nobis,
et gemitum nullo laesa dolore dabam;
nec, cur haec facerem, poteram mihi reddere causam
nec moram quid amans est; at illud erat.

in OVÍDIO, Mil Formas de Amor, org. e trad. Neus Galí, Barcelona, Ediciones Península, 2002


[Tradução:
Também eu me inflamei e, tal como me haviam contado amiúde, senti no meu coração ardente não sei que deus. A cor fugira do meu rosto; a delgadeza apoderara-se dos meus membros; a minha boca forçava-se a comer os alimentos mais pequenos. Custava-me a conciliar o sonho, a noite durava um ano e gemia sem que sentisse qualquer dor. Não conseguia explicar porque se passava isto nem sabia o que era estar apaixonada; no entanto, estava. (Tradução pirata do espanhol por APR)]

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Verdadeira poesia [ou la vraie poésie]



De Carla Bruni, primeira dama da França

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Salomé













Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo...

Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minh'alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...


Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:

Mordoura-se a chorar - há sexos no meu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...


Mário de Sá-Carneiro, "Salomé" in Poemas, Lisboa, Assírio & Alvim - Biblioteca Editores Independentes, 2007

Imagem: Ilustração da autoria de Aubrey Beardsley para a 1.ª edição de Salomé de Oscar Wilde em 1894

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

De Cécile Volanges para o Cavaleiro Danceny

(Bilhete escrito a lápis e copiado por Danceny)

Pergunta-me o que faço; amo-o e choro. A minha mãe deixou de me falar; tirou-me o papel, as penas e mais; sirvo-me de um lápis que, por sorte, me ficou; escrevo-lhe num pedaço da sua carta. Claro que aprovo tudo o que o senhor fez: amo-o demasiado para não aceitar todos os meios de obter notícias suas e de dar-lhe minhas. Não gostava do Sr. de Valmont e não o supunha tão seu amigo; procurarei habituar-me a ele, e gostarei dele por sua causa. Não sei quem foi que nos traiu; só pode ter sido a minha criada de quarto ou o meu confessor. Sinto-me muito infeliz: amanhã partimos para o campo; ignoro quanto tempo lá ficaremos. Meu Deus! Deixar de o ver! Já não há espaço. Adeus; veja se consegue ler o que escrevi. Estas palavras escritas a lápis talvez se venham a apagar, mas nunca os sentimentos gravados no meu coração.

De..., 10 de Setembro de 17..


Laclos, Choderlos de, Ligações Perigosas, Pág. 116, Trad. Pilar Delvaulx, Lisboa, Publicações Europa-América, 1989 [editio princeps]